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“Objetivo das reformas neoliberais é impor regressões sociais sem limites”
Em visita à CUT, secretário-geral da CGT da França denuncia ataques
“O pior aspecto das reformas neoliberais, que precisam ser barradas, é o dumping social, pois significam precarização e retrocesso. Na França, o atentado perpetrado pelo presidente Macron contra a legislação trabalhista é para que não haja limites à regressão social que querem impor, já que uma vez sem emprego, se aceita menos que o vizinho”, afirmou o secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT) francesa, Philippe Martinez, em visita à sede da CUT Brasil, nesta segunda-feira, 30 de outubro.
De acordo com Philippe, “agindo em função do interesse das multinacionais, os governos dos nossos países agem para nos distanciar, buscando sempre culpabilizar os trabalhadores, dizendo que há muitas leis, que eles são muito bem pagos”. Na prática é sempre a mesma história, alertou: “as multinacionais ficam todo o tempo tentando colocar a sua política no governo, tratando de diminuir o custo do trabalho baixando os salários, ameaçando que se não reduzirem, outros vão reduzir”.
Conforme o líder da CGT, é como uma espiral descendente, que só amplia a concentração de renda e a desigualdade. “Há 25 anos os franceses eram comparados aos espanhóis, hoje os espanhóis são comparados aos romenos, os romenos aos eslovenos, os eslovenos aos marroquinos, visando sempre puxar mais pra baixo, valorizando quem trabalha por menos e em piores condições”. Que este caminho não leva a lugar nenhum está mais do que provado e os exemplos são abundantes, assinalou. “Primeiro foi a Grécia, depois Portugal, Espanha, Itália e agora focam na França para impor a negociação por empresa, onde as entidades sindicais ficarão fragilizadas para eles poderem quebrar as leis trabalhistas e a negociação coletiva. Assim, numa mesma região, teremos operários de uma mesma categoria recebendo salários diferentes, sendo regidos por legislações diferentes, com relações de trabalho diferentes”, frisou.
Para fazer frente a tamanho retrocesso, lembrou o sindicalista, a França realizou pela primeira vez a apenas quatro meses da eleição de um presidente um Dia Nacional de Luta, com Greve Geral contra as medidas regressivas. Philippe lembrou que Macron foi eleito como um voto de oposição à candidatura fascista e ao governo anterior, mas não para adotar um programa de retrocessos em todos os níveis. “E depois da eleição presidencial vieram as legislativas, com somente 44% de participação, uma enormidade de abstenção. Nestas eleições apareceram muitos empresários, alguns que sequer sabiam que tinham de ir até o Congresso para legislar. Há um deputado que inclusive organiza visitas e cobra como uma agência de viagens”, relatou o dirigente, apontando que o ridículo dos parlamentares-empresários não tem limites.
JORNADAS DE MOBILIZAÇÃO
Por toda a França, a Confederação Geral do Trabalho está convocando para o próximo dia 16 de novembro uma série de Jornadas de Mobilização, “para impedir que o governo e os patrões invertam o princípio da lei, que é a defesa do bem comum, e façam com que os interesses de uma minoria se sobreponham ao conjunto”.
Citando o exemplo da Renault, Philippe explicou que o mundo do trabalho mudou e que mais do que nunca as entidades sindicais precisam estar atentas, conscientes e mobilizadas para estas alterações. “Quando comecei, a minha fábrica tinha 25 mil assalariados e o trabalhador metalúrgico, o engenheiro, o porteiro, o vigia e o que cortava grama eram regidos pelo mesmo contrato. Hoje são só 16 mil assalariados e tem 77 empresas diferentes, o que corresponde a 35 contratos diferentes, boa parte precários. E a visão de Macron é reduzir cada vez mais os direitos”, denunciou.
Para o secretário-adjunto de Relações Internacionais da CUT, Ariovaldo de Camargo, a troca de experiências entre as duas centrais ganha ainda mais relevância neste momento em que “vivemos os impactos de um golpe que está destruindo a nação brasileira e, em especial, as relações de trabalho”. Entre as inúmeras agressões, repudiou, está a permissão para que gestantes trabalhem em local insalubres. “Em nosso país, da mesma forma que Macron, Temer ataca buscando fragilizar o movimento sindical, incentivando o sindicalismo por empresa e acabando com os contratos coletivos, o que dificulta a organização. O governo extingue um tipo de financiamento que não é defendido pela CUT, mas sem permitir que outro possa existir, tudo para minar a capacidade de mobilização e restistência da classe trabalhadora”, condenou Ari.
O objetivo disso tudo, acrescentou o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, “é deixar a economia brasileira totalmente aberta e eliminar tudo o que é nacional, numa combinação de salários miseráveis”. “Agora estão tirando a forma dos sindicatos sobreviverem, acabando com sua capacidade de sustentação. Na verdade, é o desmonte de todo sistema de proteção, inclusive sindical”, ressaltou.
Com o intuito de dar enfrentamento à Reforma Trabalhista que entra em vigor no próximo dia 11, a Central, suas confederações, federações e sindicatos estão nas ruas do país. O secretário de Finanças da CUT, Quintino Severo explicou que 1,5 milhão de assinaturas pela revogação da reforma trabalhista vêm sendo coletadas e que, já no dia 8, elas serão entregues aos parlamentares no Congresso, em Brasília. No dia 10, haverá uma paralisação nacional.
“O fato é que não aceitaremos essas medidas. Onde houver insistência do patronato, ocorrerão greves, protestos e muita resistência”, concluiu Ari.
Durante a visita, o secretário-geral da CGT francesa esteve acompanhado por Marie-Claire Cailletaud, do Sindicato dos Trabalhadores na Energia (FNME); Barbara Filhol, do Sindicato dos Trabalhadores na Saúde (FD Santé); Fabrice David, dirigente; Marie-Christine Naillod, assessora da Secretaria Internacional e Raymond Francisque, membro do gabinete do secretário-geral.
Ao final do encontro ficou acordado o estabelecimento de um fórum permanente de experiências e informações entre as duas centrais.
Fonte: https://cut.org.br/noticias/objetivo-das-reformas-neoliberais-e-impor-regressoes-sociais-sem-limites-be84/