História
Sindae: 21 anos de luta e conquista
O Sindae (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto de Campinas e Região) foi fundado em 1986.
A criação do sindicato partiu da consciência de muitos trabalhadores que, em meados da década de 80, ainda não tinham nenhum órgão que os representasse, o que levava a administração da empresa a explorar e desrespeitar toda a categoria.
Um exemplo desse desrespeito é que, na época, os trabalhadores da Sanasa não contavam, nem mesmo, com equipamentos de segurança, além, é claro, te terem salários muito baixos e nenhum benefício.
Devido a essa triste realidade, era difícil encontrar mão-de-obra que quisesse trabalhar na Sanasa, sobre isso, lembra o atual presidente do Sindae, Carlos Roberto de Souza (Carlinhos), que há 29 anos trabalha na empresa: “naquele período era muito difícil encontrar pessoas no mercado de trabalho que tivessem a disponibilidade pra vir trabalhar na Sanasa. A maioria das pessoas vinha do interior. Geralmente, eram pessoas humildes que vinham para o Estado de São Paulo tentar fazer a vida. Eram pessoas vindas do interior de Minas, do Norte e Nordeste. Então, essas pessoas vinham pra cá e entravam na frente de trabalho da Sanasa, sobretudo no prolongamento das redes de água e esgoto. Teve inclusive um período nos anos 80, quando a Sanasa abriu a primeira Domasa, por falta de mão-de-obra a empresa teve que buscar presidiários para trabalhar” .
Além de ser o atual presidente do Sindicato, Carlinhos esteve presente nos momentos mais difíceis da categoria, inclusive, durante o processo de formação da entidade. Emocionado, ele recorda: “Tudo nasceu a partir de um grupo de trabalhadores que visualizou a necessidade de organização. Naquela época, havia uma grande articulação de trabalhadores no ABC, com o companheiro Lula, os petroleiros e os bancários também estavam mais organizados. O País vivia um momento de grandes mudanças, saindo de um regime de ditadura militar para um regime democrático, então, era um período de transição e anistia. Foi nesse contexto que nós começamos a nos organizar. No início, era um pequeno grupo de pessoas, daí começamos a realizar uma série de discussões, mas isso, sem interferência política nenhuma. Eram apenas trabalhadores que estavam a fim de buscar melhorias para toda a categoria. A partir de então, nós procuramos a Federação dos Urbanitários (FNU) e o sindicato de São Paulo, ou seja, dos trabalhadores da Sabesp, a partir daí, começamos a ter uma articulação maior, já que o sindicato de São Paulo se prontificou a nos auxiliar aqui em Campinas”.
Foi a partir destes parceiros e com muita determinação que o pequeno grupo de trabalhadores conquistou confiança e credibilidade junto à base. Entretanto, nem tudo são flores. Quando a empresa notou a organização dos trabalhadores, o clima começou a esquentar.
“Quando a empresa viu que os trabalhadores estavam se organizando e que havia a possibilidade de interferência do sindicato de São Paulo ou da Federação, em poucos dias a direção da Sanasa articulou nos bastidores a formação de uma associação. Depois de dois meses, essa associação foi transformada em sindicato” , conta Carlinhos.
Toda essa articulação da empresa visava o abafamento do movimento organizado pelos trabalhadores. Nessa época, a própria Sanasa, por meio de assessores do prefeito e do presidente da Sanasa, (que era o vice-prefeito da cidade de Campinas), formou a primeira direção do sindicato, uma direção pelega e sem nenhum intuito de melhorar a vida da categoria.
Momento decisivo
“Mesmo com a tentativa da empresa de abafar o nosso movimento, não perdemos a nossa organização. Continuamos com nossas discussões e, quando a associação se transformou em sindicato, já estávamos com o movimento bastante solidificado e com respaldo da base. Por causa disso, quem estivesse do nosso lado, do lado dos trabalhadores, sofria muita retaliação. Nesse período houve demissão de vários companheiros” , lembra Carlinhos.
Com muita determinação, o pequeno grupo de trabalhadores formou um movimento sólido e paralelo ao do sindicato pelego, formado pela Sanasa.
De acordo com Carlinhos, foi um período de muita dificuldade, luta e enfrentamento. Durante as assembléias a Sanasa mandava olheiros para acompanhar o e anotar os nomes de quem estivesse presente e depois relatar tudo que fosse discutido para a direção da empresa.
Um momento decisivo na história do Sindae aconteceu quando o grupo de trabalhadores conseguiu, com dificuldades e muita perseverança, convocar todos os trabalhadores e realizar uma grande assembléia no teatro Dom Barreto, convocando até a diretoria do sindicato organizado pelos patrões.
Foi nessa grande assembléia que a categoria determinou a dissolução da então diretoria pelega e deliberou sobre a destituição dos mesmos. Ficou deliberado ainda que deveria ser formada uma junta governativa e que essa junta deveria convocar novas eleições para o sindicato depois de 2 meses de trabalho.
“Eu fui eleito um dos membros dessa junta governativa e, como havia sido determinado pelos trabalhadores, num período de dois meses nós chamamos a eleição. Resultado: ganhamos o pleito com chapa única. Na época o sindicato foi montado dentro da empresa, já que ainda não tínhamos nenhuma estrutura, a Sanasa cedeu um espaço dentro das suas dependências. No entanto, depois de pouco tempo nós conseguimos quebrar o vínculo que existia entre o sindicato e a empresa. Nós trabalhamos somente uns dois meses na Sanasa, depois conseguimos a nossa primeira sede, na rua Regente Feijó. Foi aí que nós conquistamos a nossa independência, graças ao apoio incondicional da base e com a ajuda da FNU e da CUT regional Campinas”.
Dificuldades X Conquistas
Depois que o sindicato foi fundado e articulado em prol da categoria, teve início a luta por melhores condições de trabalho, salário e benefícios.
Mesmo sendo o período final da ditadura militar, o Sindae passou por muitos momentos truculentos e de embates com as autoridades. Os soldados marcavam posições próximas às manifestações, na porta da empresa, da captação e das Estações de Tratamento de Água.
Mesmo com tanta truculência, a organização do Sindicato era tão bem feita, que a entidade tinha total controle da situação. Durante a greve, era o sindicato que determinava quem deveria trabalhar para que o serviço de abastecimento de água não parasse.
Esse foi um tempo de grandes conquistas. Com o apoio total da base, as greves duravam vários dias, muitas delas foram decididas apenas na Justiça do Trabalho e sempre com resultados positivos para a categoria. Foi nesse período que uma série de conquistas foram obtidas, muitas delas fazem parte até hoje do quadro de benefícios dos trabalhadores da Sanasa, como o plano de assistência médica, a cesta básica, o ticket refeição, as melhores condições de trabalho em termos de segurança e, principalmente, os aumentos de salário.
No entanto, a organização dos trabalhadores não ficou restrita apenas em Campinas. Em 1989, o Sindae consolidou o processo de extensão da sua base territorial e passou a representar com legitimidade os trabalhadores do Saae- Atibaia (Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Atibaia).
Quando o Sindae chegou à Atibaia, os trabalhadores encontravam-se num regime de exploração e sem nenhuma organização. Nem mesmo noção quanto aos seus direitos os trabalhadores tinham.
A partir daí, iniciou-se um processo permanente de mobilização e organização. Houve momentos conturbados com greves de até 30 dias. Felizmente, sempre tivemos um resultado positivo. Hoje, os trabalhadores do Saae contam com um excelente Acordo Coletivo que garante inúmeras conquistas e direitos. É possível afirmar que o maior avanço em Atibaia foi a conquista política. Atualmente, os trabalhadores do Saae são conscientes dos seus direitos e têm muita disposição de luta.
O Sindae hoje
Com uma história de muita luta e muita vitória, hoje o Sindae vive um momento de certa calmaria. Tendo em vista que a própria conjuntura política é extremamente diferente dos tempos em que a entidade nasceu.
Antes, era um momento de transição onde o País estava no fim de um regime militar truculento, então, para se conquistar alguma coisa era necessário o uso da força, de muita luta, organização e conscientização dos trabalhadores. Naquela época, a classe trabalhadora era bastante penalizada, não havia respeito, nem reconhecimento. Isso era uma das coisas que o Sindae buscava, o reconhecimento da classe trabalhadora, principalmente na questão da distribuição de renda, o que ainda hoje não é o ideal, mas em vista do passado melhorou consideravelmente.
Hoje, já não existe mais o enfrentamento e a truculência dos tempos idos, as discussões são todas feitas numa mesa de negociação. De acordo com Carlinhos, “as categorias já chegaram no topo no que diz respeito às reivindicações, o que se busca é outro tipo de relacionamento na relação capital/trabalho, que hoje se dá no âmbito da manutenção do emprego e das conquistas que foram obtidas ao longo dos anos, além da busca por alternativas para acompanhar a evolução, tendo em vista que vivemos em um mundo globalizado”.
Para Carlinhos, apesar de todas as dificuldades, a luta não foi em vão. “Sim, valeu a pena. Tudo começou lá atrás e a luta não era só reivindicativa, mas também política. Hoje, eu tenho a certeza de que realmente valeu a pena, porque nós temos um trabalhador no poder. Independente de ele estar agradando ou não, o que importa é que isso representa uma grande vitória de toda a classe trabalhadora, que foi oprimida durante a maior parte da história do Brasil. Isso é um motivo de orgulho para todos nós aqui do sindicato e, principalmente, para toda a nossa categoria”.